Não sei ao certo o motivo, porém há muito tempo paro, após um dia bastante corrido, para admirar o entardecer, e por vezes, reservo-me alguns minutos para olhar o sol poente, e perceber as mudanças no tom do céu, e ao mesmo tempo, o despertar de algumas estrelas e a partir disso, tirei algumas lições.
Acredito que eu tenha sido influenciada há bastante tempo pela literatura, por livros que sempre citaram a beleza do pôr do sol, ou ainda, músicas que também trazem uma reflexão sobre este momento que se repete diariamente e, que, de forma também natural, passamos a não reconhecer a sua verdadeira importância.
Por um lado, sei que de certa maneira, este horário coincide com o momento de ir para casa, o trajeto que faço, me favorece de várias formas, não existem tantos prédios ou outras construções que possam cobrir este momento. Por vezes, as nuvens e a chuva de verão acabam tomando para si a atenção, no entanto, fico na espera de que no outro dia haverá uma nova oportunidade, que o sol voltará a brilhar.
Acredito que é esta associação, do entardecer, com a esperança de um novo dia e infinitas possibilidades que é a grande lição aprendida. Há um ano, tirei a foto acima, tinha saído para contemplar o pôr do sol, repetindo um ritual que mantenho há mais de um ano, que trato como um momento que reservo para colocar as emoções e pensamentos no lugar.
Neste mesmo momento, estava com a sensação de que alguns processos terminariam, o mestrado, por exemplo, estava no penúltimo mês e, a dissertação, praticamente concluída a tempo, sem grandes percalços – o que significa que não exigiu muito esforço. No entanto, nem de longe imaginaria o quanto estaria por vir, e algumas coisas que foram idealizadas e semeadas ao longo de dez anos, logo demonstrou, com o passar das semanas não iria crescer e frutificar.
Geralmente para plantar, passamos por um processo de escolha, análise, planejamento, confiamos que dará tudo certo, haja o que houver. No entanto, assim como uma chuva de verão que surge de repente, podem fazer com que as sementes se percam e lá se vai todo um planejamento e expectativa de uma boa colheita.
Contudo, o bom semeador nem sempre planta todas suas sementes em um mesmo solo, algumas podem ficar em uma área reservada e, graças a isso, mesmo com todo este caos, algumas sementes acabaram vingando. Bom, como em qualquer ciclo natural, neste meio tempo, existiram vários dias e noites, algumas noites, bem escuras, sem nenhuma estrela, outras, o vigor do sol trouxe o que era necessário para cada etapa do crescimento das boas sementes. Enfim, e qual a analogia que se pode fazer desta reflexão com o entardecer? Se repararmos, muitas plantas neste momento do dia, se recolhem, se fecham, para no dia seguinte, se abram novamente. E é esta a lição que o entardecer me trouxe, a certeza de que o amanhã sempre vem, apesar de ter atravessarmos antes, uma noite, cheia de incertezas, escura e infértil. O amanhã sempre vem.
Amanda Oliveira