"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento." Clarice Lispector
A ideia deste espaço surgiu há muitos anos, ainda na minha adolescência, no entanto, nas idas e vindas da vida, sempre deixei este desejo em um segundo plano. Primeiro, por achar que talvez seria uma iniciativa vã, que não causaria nenhum impacto, diante das várias andanças da vida, entendi que o propósito das coisas não precisa carregar necessariamente um ar revolucionário. Ao passar por muitas experiências no ano passado, leituras intensas para a construção da minha dissertação de mestrado, me deparei com uma frase de Dom Hélder Câmara que assim disse outrora: “Dar o máximo, trabalhar sempre com alma e com toda a alma, quer se tratando de conduzir às estrelas uma nave espacial ou fazendo uma simples ponta de lápis”.
Então, refleti sobre o processo que eu já experimentava em outras esferas há anos, de sempre me comprometer muito com qualquer atividade que eu me propunha a fazer, de fato, nunca parei para pensar se estava contribuindo para um pequeno ou grande feito, isso não importava, queria apenas fazer para trazer alguma recompensa, seja material ou emocional. Contudo, percebi também que este processo, de total dedicação, na maioria das vezes, se não, em todas, sempre foi um comprometimento “terceirizado”, isto é, sempre me dediquei ao máximo para projetos coletivos ou dos outros, e para mim, para os meus projetos, sonhos e desejos, não era colocava a mesma intensidade. Evidentemente que até chegava a me dedicar bastante, até porque, são os projetos, os sonhos e os desejos que nos movem adiante, no entanto, percebi recentemente o quanto eu mesma me autossabotava, por mera questão de detalhe, ou plena confiança no fluxo das coisas, vi que justamente, este detalhezinho é que muitas das vezes fazia a diferença, seja para o bem ou para o mal.
Com o compromisso de um resgate pessoal, de um processo de reconexão com a minha essência e busca da autoconfiança, surge o Café com Kairós. Se te tem uma coisa que verdadeiramente trabalhei durante a elaboração da minha dissertação foi tentar não passar nenhum detalhe, que comprometesse a qualidade da minha pesquisa. Afinal, a minha paixão pela escrita surgiu ainda na minha adolescência, no entanto, neste aspecto de não apreciar a mim mesma, não gostava de forma alguma de reler os meus textos, algo que é impossível de ser mantido durante a escrita de um texto acadêmico. Apesar de parte do processo este bloqueio ter se mantido, finalmente, no final do processo consegui superar este aspecto.
Desta forma, o Café com Kairós será um espaço de compromisso com o meu desenvolvimento pessoal, na busca da minha autoconfiança, assim, quebrando o medo do julgamento alheio. Existem muitas outras nuances que permeiam esta construção, todavia, é notório, que quero também falar dos meus sentimentos. Mesmo que agora isso se dê pela escrita e não pela oralidade, a qualidade de qualquer construção se dá a partir de sólidos alicerces, por isso, prefiro no momento que seja assim.
Outra reflexão que faço neste preludio é sobre o nível de comprometimento com os meus próprios sonhos e este processo surgiu a partir da animação Wish: o Poder dos Desejos. Até que ponto conhecemos realmente o que queremos ou ainda, comprometemos com a manifestação dos nossos desejos? Vivemos em uma sociedade permeada de vários problemas, das mais diversas complexidades, só que, infelizmente, estes fatos externos sempre estarão aí, seja a partir da ordem política, social, cultural ou econômica. Por isso, só cabe a nós mesmos, a correr atrás dos nossos objetivos, com a mesma garra e comprometimento de quando vamos entregar um trabalho, tal qual, quando estamos sendo remunerados. Pode parecer um tanto quanto óbvio este pensamento, entretanto, colocá-lo dia a dia em prática, é com certeza, um desafio, pois, enfrentar e integrar as nossas próprias sombras, por sinal, é a grande charada da vida.
Amanda Oliveira